sábado, 12 de julho de 2014

A vida pode ter sentido - Parte 1

Por Jânsen Leiros Jr
Revisado e ampliado em 26/04/2024

“O que ou quem me traz à existência e logo nela me impede de continuar?

Minha origem é incerta, como é incerto o meu futuro.

O que está por trás desse ciclo? Quem o planeja?

Por que se vive tão pouco, e qual o sentido de tão efêmera existência?

Bem não aprendo a viver, e já a morte me leva.

Será que nasci apenas para viver.

E se vivo, o faço apenas para um dia morrer?

Será a vida uma passagem e a morte um ingresso?

Ou será que com a vida se compra a passagem para a vida que a morte traz?

Nascimento, vida e morte; em linha a nossa sorte?

Ruim talvez nascer morto.

Pior talvez morrer vivo.

Pior ainda viver morto.

Melhor de tudo?

Nascer de novo renovando a vida.

Não morrer jamais”

                 Não morrer jamais –Jânsen Leiros Jr

Blog Sensações & Poesias


Quem jamais se fez essas perguntas? Quem nunca se surpreendeu, tentando encontrar algum sentido para a própria existência? Cedo ou tarde, por um motivo ou outro, penso que todo ser humano se põe a questionar: o que é que estou fazendo aqui? E ainda: qual o sentido da vida? Mesmo sendo uma questão legítima, essa inquietação impulsiona o ser humano em uma viagem que pode variar entre o monótono e o surpreendente, entre o sintético e o analítico, entre o crescimento e a estagnação, e entre a euforia e a depressão.

A legitimidade do questionamento pelo sentido da vida tem origem na observação tácita de que ela não pode resumir-se em uma sucessão de dias, gastos na busca de satisfação das necessidades básicas, quer físicas quer sociais. Uma rotina patética de luta atroz pela sobrevivência. Ora, se eu não existisse, não teria qualquer necessidade. Se as tenho, é só porque existo. Então minha existência não pode se resumir em atender às demandas que tenho, apenas pelo próprio fato de existir; existir para manter-se existindo. Assim, causa e efeito seriam viciosamente uma mesma coisa. A vida teria sua funcionalidade aprisionada em um ciclo necessidade-satisfação. Um propósito monótono, apático e impotente para construir perspectivas atraentes a uma humanidade sedenta de objetivos existenciais. Um propósito adequado na vida pode deslocar o pulso existencial do dever, para o pulso essencial do prazer.

Muitas e variadas linhas de pensamento buscam encontrar esse adequado sentido para a vida. Os mais pragmáticos sintetizam o viver ao tempo entre o nascer e o morrer. Nesse intervalo, o ser humano sobrevive e da melhor maneira possível. No contexto de manter-se vivo, vale tudo para que essa sobrevivência tenha algum prazer, ainda que para essa linha de raciocínio, por definição, a sensação de prazer e saciedade seja transitória e temporal.

Eu tenho muita dificuldade em reduzir a vida a um ciclo de nascimento e morte no tempo. Não estou me referindo à vida após a morte. Não é o caso aqui. Estou falando de vida transcendente, ainda que presa ao ciclo de começo-meio-fim; falo do que Jesus chamou de "vida em abundância". Vida com sentido, vida com propósito.

Aqui e agora, a vida, por ser vida, não pode ser estática. Precisa estar em movimento. Ser dinâmica e contagiante. Influenciadora e envolvente. Expansível de dentro para fora, e inspiradora de fora para dentro porque agradecida. Em toda e qualquer direção, precisa interagir com o cenário em que se insere. A vida precisa ter significado enquanto existente.

A melhor e mais apropriada comunicação que conheço dessa vida em movimento é a que o texto bíblico faz utilizando a figura do peregrino em terra estranha.

 “Todos esses morreram cheios de fé. Não receberam as coisas que Deus tinha prometido, mas as viram de longe e ficaram contentes por causa delas. E declararam que eram estrangeiros e refugiados, de passagem por este mundo.”

                       Hebreus 11:13 - NTLH

 

 “Queridos amigos, lembrem que vocês são estrangeiros de passagem por este mundo.”

                       1 Pedro 2:11 - NTLH

Um peregrino está sempre em movimento, sempre a caminho, em marcha para algum lugar. E sendo um forasteiro, não pode se permitir descansos mais demorados ou tornar-se cativo de qualquer outra demanda que não a sua ali e além. Um peregrino, ainda que cansado pelo esforço na caminhada, não pode entregar-se à auto piedade ou à acomodação. Precisa viver sua peregrinação. Nada nessa terra em que atravessa é suficientemente seu para que o detenha em sua jornada, e lhe desvie do objetivo; ameaçadoras distrações.

Mas ainda que o peregrino esteja sempre caminhando, sempre em marcha para algum lugar, o sentido de sua vida não é o ponto de chegada, mas sua própria jornada. No caminho está o seu prazer. Por essa razão, a quantidade de tempo vivido é menos importante do que o como essa vida é vivida no tempo. O sentido da vida se expressa em quão oportuna ela é, e não em quanto tempo ela está.

Portanto, viver é mais do que meramente existir. É ir além da satisfação das necessidades diárias. A vida pode ter um sentido e este não está em qualquer lugar onde eu queira ou possa chegar. Em vez disso, está no caminho que experimento e trilho até lá.

Viver é inserir-se no tempo presente, modificando-o oportunamente. Assim, cada instante vivido se reveste de significância, e cada ato, por mais simples e espontâneo, por mais complexo ou sacrificante, será sim, pertinente e adequado, dando sabor, seja doce ou amargo, à realidade de minha existência. Porque o prazer de viver está em ser o que se é na sua potencialidade plena, ainda que seja difícil e dolorido. Porque se o viver é Cristo e o morrer é lucro[1], não há qualquer prejuízo em vivermos frutificando ao próximo. Porque esse, afinal, era o viver de Jesus.



[1] Filipenses 1:21

6 comentários:

  1. Bom dia
    Boa reflexão meu amigo
    Vc é um auto didata

    ResponderExcluir
  2. Parabéns Jânsen, muito boa a analogia com a peregrinação. Sua colocação diferencia aqueles que na jornada são Peregrinos de Coração, ou seja, aquele pessoa O Peregrino de coração não somente se desloca na travessia da vida... Ele se adapta, ele se renova, ele cresce, ele amadurece, ele aprende, ele constrói e ajuda a construir e reconstruir outros corações. Ele repara, ele se faz presente, ele é sensível, ele é quebrantado, humilde e arrependido ( salmo 51:17). Por outro lado, existem aqueles tem o coração peregrino, andam, andam e andam, e permanecem os mesmos. Nada aprendem, em nada crescem e em nada mudam. Como nos diz o Salmo 84, importa que sejamos Peregrinos de Coração.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Querido Verdi. Suas observações são uma verdadeira nota de rodapé, que suplementa oportunamente o conteúdo. Obrigado por ajudar no aprofundamento do tema. Será sempre bem-vindo. Quanto ao incentivo, nada melhor para recompensar meu coração peregrino...

      Excluir
  3. Muito bom Jansen.
    Quero te dizer que compartilho destes pensamentos, mas logo me vem em mente o quanto Deus já participou de minha existência, seja ela admoestando, livrando, abençoando, me abrindo os olhos, me usando, enfim, estamos peregrinando neste mundo para exatamente cumprir os propósitos de Deus.
    O homem pode planejar, mas só Deus pode determinar.
    Prossigamos, vivendo um dia após o outro.
    Deus te abençoe

    ResponderExcluir

Detesto falar sozinho. Dê sua opinião. Puxe uma cadeira, fale o que pensa e vamos conversar...

Powered By Blogger