Por Jânsen Leiros Jr.
“1 Logo depois disso, andava Jesus
de cidade em cidade, e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho
do reino de Deus; e iam com ele os doze, 2 bem como algumas mulheres que
haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada
Madalena, da qual tinham saído sete demônios. 3 Joana, mulher de Cuza,
procurador de Herodes, Susana, e muitas outras que os serviam com os seus bens."
Lucas 8:1-3 - JFA
Nunca fui muito de falar desse
assunto. Na verdade quase sempre fugi dele. Seu caráter polêmico e o receio de
ser confundido com aproveitadores e charlatões que pululam em nossos dias,
sempre me mantiveram afastado da questão do sustento dos empreendimentos
missionários, exclusivamente dedicados ao anúncio do evangelho.
Quando falo de empreendimentos
missionários, não me refiro a missões como
ações em terras distantes apenas. Mas também, e igualmente importante, do que
chamo de missões ao lado, que acontecem dentro do universo alcançável por
nossos passos cotidianos e rotineiros, normalmente realizados no âmbito de
nossas igrejas locais.
E me sinto muito mais à vontade para
tocar nesse assunto, tendo em vista o texto acima. Pela dedicação exclusiva ao
anúncio do evangelho do reino de Deus, o próprio Jesus recebeu ajuda de pessoas
piedosas, no caso mulheres, que a exemplo de seus doze discípulos mais
chegados, o acompanhavam em suas jornadas de cidade em cidade, e de aldeia em
aldeia, como narrado aqui em Lucas.
Ora, todos sabem que Jesus era
carpinteiro, tendo aprendido a profissão de seu pai José. Isso certamente lhe
rendeu algum sustento enquanto vivia junto de sua família. Após ser batizado,
porém, Jesus passou a dedicar-se exclusivamente ao anúncio do evangelho, não
lhe sendo mais possível fazer do trabalho seu meio de subsistência. As raposas têm covis, e as aves do céu têm
ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça[1].
O cuidado de algumas mulheres em
prover os recursos necessários, a Jesus e aos doze, parece não ter sido
colocado aqui por acaso. O final do capítulo 7 de Lucas, do qual falamos no Exercício
Diário 008[2],
falava de uma mulher pecadora, cuja gratidão levou a uma extremada expressão de
adoração, lavando com lágrimas e enxugando com os próprios cabelos os pés de Jesus,
e ainda beijando-os e ungindo-os com um produto de grande valor no contexto social
daquela época.
Nos evangelhos de Mateus, Marcos e João[3],
a mesma cena se desenvolve com algumas variáveis, porém a mais destacada é a
reação aparentemente piedosa daqueles que condenaram a atitude daquela mulher,
considerando que ela deveria vender aquela especiaria tão valiosa, e dar aos
pobres. Uma acusação de desperdício estava implícita, pois sua atitude fora
julgada e desqualificada. A avareza de tais homens, no entanto, não lhes
permitira valorizar o gesto de amor e devoção. Somos sempre tentados a buscar
utilidade e pragmatismo em todos os nossos atos e gestos. A adoração extremada
e com aquilo que possuímos parece aos olhos dos outros, um exagero e um despropósito
sem sentido ou utilidade.
Aquela mulher pecadora, segundo o
texto, encontrou um meio de declarar sua satisfação e devoção a Jesus pelo que
lhe havia feito; ele a resgatara de sua vida de pecados. Da mesma maneira, as mulheres
que acompanhavam Jesus em sua jornada, encontraram no sustento de sua missão,
uma forma adequada às suas possibilidades, para expressarem seu amor e
agradecimento pelo que Jesus havia realizado em suas vidas, pois as curara de
diferentes e infelizes condições.
É importante ressaltar que o que
realizavam não era uma barganha; eu te
dou você me dá. Muito pelo contrário, elas ajudavam com espírito de
devoção, movidas pela gratidão de quem já havia recebido inteiramente de graça,
e pela graça, tudo o que mais desejavam; uma vida nova e restaurada. O sustento
ao ministério de Jesus era para aquelas mulheres, portanto, um ato de amor e
consagração, além da expressão prática de quem apoia algo que espera ver
anunciado a muitos.
Nossa adoração e louvor têm refletido
nossa gratidão pelo perdão infinito que de Deus temos recebido? Temos nos
oferecido como sacrifícios vivos em um culto racional? Ou não passamos de
fariseus que apenas convidam Jesus para um jantar, numa mera formalidade de
quem não se imagina necessitado do amor de Cristo? E se nesse caminho de
entrega e dedicação nos for necessário abrir mão de posses ou usa-las; as
doamos ou perdemos?
Que o Senhor que não precisa de nada
do que lhe venhamos a oferecer, receba nossa gratidão, e que essa se expresse
da maneira que nos for mais valorosa, mas não pelo maior preço. Deus conhece
todos os corações[4].
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